Carrego seu coração

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 Poema de E.E. Cummings recitado por Camerón Diaz, no filme "Em Seu Lugar"

Carrego seu coração comigo
Eu o carrego no meu coração
Nunca estou sem ele
Onde eu for, você vai, minha querida
Não temo o destino
Você é meu destino, meu doce
Não quero o mundo pois, beleza
Você é meu mundo, minha verdade
Eis o segredo que ninguém sabe

Aqui está a raiz da raiz
O broto do broto
E o céu do céu
De uma árvore chamada VIDA
Que cresce mais do que a alma pode esperar
Ou a mente pode esconder
E esse é o prodígio
Que mantém as estrelas à distância

Carrego seu coração comigo
Eu o carrego no meu coração

E. E. Cummings
(tradução original)


Voltei para colocar o video. Tata achou-o no Youtube.

Mãe. Pai. Filhos



Poema enjoadinho


Filhos . . . Filhos?
Melhor não tê-los!
Mas se não os temos
Como sabê-lo?
Se não os temos
Que de consulta
Quanto silêncio
Como os queremos!

Banho de mar
Diz que é um porrete . . .
Cônjuge voa
Transpõe o espaço
Engole água
Fica salgada
Se iodifica
Depois, que boa
Que morenaço
Que a esposa fica!

Resultado: filho.

E então começa
A aporrinhação:
Cocô está branco
Cocô está preto
Bebe amoníaco
Comeu botão.

Filhos? Filhos
Melhor não tê-los
Noites de insônia
Cãs prematuras
Prantos convulsos
Meu Deus, salvai-o!
Filhos são o demo
Melhor não tê-los . . .
Mas se não os temos
Como sabê-los?

Como saber
Que macieza
Nos seus cabelos
Que cheiro morno
Na sua carne
Que gosto doce
Na sua boca!

Chupam gilete
Bebem xampu
Ateiam fogo
No quarteirão
Porém que coisa
Que coisa louca
Que coisa linda
Que os filhos são!

(Vinícius de Moraes)



E quão dura e doce é a vida de um pai e de uma mãe. Acho engraçado quando vejo um pai preocupado com alguma situação e acaba me dizendo: "Ele? Não está nem ai. Foi jogar bola, nadar no rio, andar de bicicleta. Espere...acabou de meter a porrada no melhor amigo."

Mas para que ele vai se preocupar se tem você para cuidar?

Quando eu estava com um pé aqui e outro acolá, observava apenas restos de meus pais andando de um lado para outro no hospital - pareciam esperar a triste noticia de que eu não havia resistido às bactérias do apêndice. Quando soube da minha alta, liguei para casa e perguntei à mamãe qual o presente que ela gostaria de receber. Ela me respondeu que me queria de volta. Então eu disse: "Venha me buscar".

Quando abri os olhos na CTI, eles estavam ali do meu lado, acho que rezando e pedindo para que eu acordasse. Abrir os olhos e vê-los do meu lado, foi a melhor coisa da minha vida. Seria bom que todos os pais estivessem ao lado dos filhos quando eles abrissem os olhos depois de um cirurgia, mesmo que fosse uma microcirurgia com anestesia local, ou depois de uma decepção - naquele momento que eles abriram os olhos e enxergaram que você estava certo nos seus conselhos de que àquele cara não prestava para sua vida, ou que àquela menina não era a mulher certa.

Muitas vezes, os filhos não percebem que o amor dos pais é tão grande por eles que acabam se tornando chatos em cobranças e zelos. Ah...mas é àquele amor exarcebado que protege meio que desprotegendo da vida. Mas quem não gosta de proteção que desprotege?

As escolhas da filha, a doença incógnita do filho...a preocupação, o zelo, a cobrança, o choro, a briga, a surra; ao final apenas uma mão que se estende e pede para não esquecê-los e que podem contar para sempre com o colo que ainda está disponivel e prestes a te acolher.

Precisa ter um filho para compreender seus pais.
Assim o disse Sofocleto. Quanta imbecilidade de Sofocleto - me desculpe caro filósofo se te chamei de imbecil. Não, é claro que não. É preciso apenas entender de amor. Se Sofocleto estivesse certo - "coitados dos homossexuais, dos inférteis, dos religiosos que vivem sob o manto da castidade, daqueles que passaram por uma quiomioterapia severa e tiveram seus orgãos reprodutivos prejudicados, daqueles que não tiveram tempo de ter uma vida reprodutiva porque morreram cedo, dos que tiveram 'caxumba', dos que não podem pagar um tratamento para fertilidade e esperam pacientemente durante anos numa fila de hospital público. Ah...como poderia ter esquecido? Coitado de Jesus, morreu sem ser pai, portanto, segundo Sofocleto, sem compreender o abandono do pai."

Para compreender seus pais...tem que saber ser filho.
Para compreender seu filho...tem que saber ser pai e ter sido filho, na essência da palavra amor.

Os nossos pais amam-nos porque somos seus filhos, é um fato inalterável. Nos momentos de sucesso, isso pode parecer irrelevante, mas nas ocasiões de fracasso, oferecem um consolo e uma segurança que não se encontram em qualquer out
ro lugar.

Bertrand Russell

Pelas mãos do artesão

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No texto anterior falei daquele alguém, que só de recordações, deixam um nó na tua garganta.

- Ei...falei do nó na tua garganta e não na minha!

Engraçado...não guardo esses nós. Jamais passaria a vida sem que alguém soubesse que naquele instante, apenas naquele instante, ele era importante. Até mesmo àqueles para os quais suspirava platônicamente sabiam da minha existência; muitos, ao final, acabaram sucumbindo ao telefone sem fio das colegas, aos papéis amassados, aos desenhos na folha do caderno, a troca de olhares e aos sorrisos maliciosos no fundo de um pátio de colégio durante as aulas de educação física. Sucumbiam ao meu platonismo na mesma velocidade do meu desencanto. Gostava mais do platônico; talvez pelo simples descompassar de um membro cardíaco que logo para de bater. Pelo simples saber de que não seria para sempre. A magia era quebrada quando havia a reciprocidade.

Alguém que não guardou pedaços de mim como lembranças, ficou. Talvez, seja alguém que saiba aproveitar os cacos de mim e deles fazer lindos mosaicos. De meus cacos, virou o artesão do pior e do melhor de mim...

Intensidade


 f_loveagainm_701f98e Estava no youtube procurando uma música do Pato Fu para ilustrar meu próximo texto no She´s Like The Wind e revirando daqui e dali parei nesse clip da cantora Rosana. Ah! Não me chame de saudosista e nem de velha. "Saudade palavra triste quando se tem um grande amor..." vive cantarolando meu papai. Mas nessa música, em especial,  sinto uma intensidade na letra e na voz da cantora.

Suspirei várias e várias vezes ao ouví-la. E me pergunto: Quanto custa lutar por esse amor tão bem expresso musicalmente? Quantos de nós esperaria a vida inteira? Quantos, escolheriam o cantinho, o amor, numa cabana? Quantos cansaram de esperar e  sucumbiram; resolveram aproveitar as oportunidades sinalizadas, a estabilidade, a segurança.

E o seu amor? Àquele amor que acelerava teu coração descompassadamente? Onde ele foi parar? Se é que ele algum dia chegou na tua vida. E se chegou porque ele foi embora? Só quem já sentiu um nó na garganta...àquele nó que te deixa sem voz, com os olhos lagrimejados, vai saber responder. Talvez não tivesse que ser. Por que não? E quem disse que não era possivel ser? É possivel acreditar quando se ama.

Ah...esses amores que ficaram em algum lugar pedidos...são pedacinhos que se guardam uma vida inteira numa cabana imaginária. Será que trouxe dentro de mim pedaços de alguém? Será que deixei em alguém pedaços de mim?

Na época da música, com certeza não vivia nenhum grande amor...mas sonhava com a chegada dele e já sentia saudades dele. Era o meu presságio interior querendo viver e sofrer por um grande amor. De querer sentir  a expectativa da chegada e a dor da partida. Era apenas uma garota...que não amava os Beatles e nem os Rolling Stones.

 

"Antigamente, os músicos cantavam sonhos..."

(comentário de um usuário do youtube, sobre o video)

 

 

CUSTE O QUE CUSTAR
(Michael Sullivan – Paulo Massadas)


Guarde um pedacinho de você
Pra lembrar de mim a vida inteira
Pede ao coração não esquecer
Nossas emoções e brincadeiras
Sempre que você quiser estou contigo
Pra você desabafar um ombro amigo
Num cantinho, num amor, numa cabana
É possível acreditar quando se ama
Por isso
Tudo pode acontecer
Faço parte de você
Quando o coração decide não tem jeito
Sonho o que sonhei pra mim
Fogo de um amor sem fim
Nada poderá mudar o que está feito
Custe o que custar
Nem que leve a vida inteira
Eu quero ter você
Só quem ama não se cansa de esperar
Como eu te amo, te amo...

 

Perdas & Ganhos

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liberdade

"...Que no espelho posto à nossa frente na hora de nascer a gente ao fim tenha projetado mais do que um vazio, um nada, uma frustração: um rosto pleno, talvez toda uma paisagem vista das varandas da nossa alma...."

Lya Luft, in Perdas & Ganhos

 

 

Ganhei de aniversário, não me lembro o ano, o livro Perdas e Ganhos - de Lya Luft. Ganhei de uma amiga, uma linda amiga, uma ex-amiga -  talvez não seja ex, talvez não haja apenas mais talvezes a serem vividos, ditos, esclarecidos.

Estranho! Da amizade restou apenas um livro; livro  de vez em quando folheado. Nunca fiz perguntas...talvez nem hajam perguntas a serem feitas...deixei lacunas diante do silêncio. Queria saber o porquê de ter acreditado em mentiras que apenas se tornariam verdades anos depois. Jamais passaria pela minha cabeça alguma possibilidade da hipótese de uma mentira contada, se tornar verdadeira algum dia na minha vida. Não trabalho com hipóteses muito menos com possibilidades delas, busco sempre o mínimo de certeza. Apesar de aplicá-los, não gosto de achismos, afinal, quem acha alguma coisa na verdade não acha nada.

Mas ela preferiu assim...me deixar a certeza de que em amizades há Perdas e Ganhos. De vez em quando a vejo em site de relacionamentos virtuais...eu a vejo...ela me vê...e ficamos assim. Sem cobranças, sem perguntas, sem certezas, apenas fazendo parte da vida de uma e de outra - mesmo que seja virtual.

Sei que ela está bem. E ela sabe também que estou bem também. Dificilmente sinto falta de ex-amigos, pois sou a primeira a deletá-los e excluí-los, principalmente os sanguessugas. Mas tem gente que a gente não deleta, não exclui, não apaga...ainda são importantes, mas cada um no seu quadrado.

 

 

 

 

 

 

Idéias de Girico

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Ideias383a

 

"Escrever é fácil.
Você começa com uma maiúscula e termina com um ponto final.
No meio, coloca idéias."

(Pablo Neruda)

 

 

O problema é a falta de idéias, preferem tomar para si textos que não são seus. Mas uma pessoa sem idéias é uma pessoa sem criatividade e que como muito bem diz Neruda em um outro belissimo texto seu; uma pessoa assim é  uma pessoa que morre lentamente.

Todos temos idéias, mesmo que sejam idéias de girico.

Extasiada


PQP...falar mais o que?
Tem coisas que não se repetem mais na vida...!!!!
Delicia!!! ... "Your a blues John"


Panis Angelicus

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A primeira vez que ouvi Panis Angelicus foi na voz de Charlotte Church, na época, uma inglesa de 12 anos que encantava o mundo com sua voz. Hoje, toda vez que passo perto de algum mosteiro beneditino entro, sento e fico extasiada, entorpecida...pois sei que lá vou ficar ouvindo os monges cantando Panis Angelicus.

Aliás, é algo de mágico ouvir o canto gregoriano...É um deleite. Não gosto de templos, igrejas...mas quando é para ouvir o canto gregoriano...me sinto em paz, mais próxima do inexplicável.

Panis angelicus

Fit panis hominum;

dat panis coelicus

Figuris terminum

O res mirabilis!

manducat Dominium

Pauper, pauper,

Servus et humilis,

Pauper, pauper

Servus et humilis.

Reciprocidade

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Viver plenamente


“Eu disse a uma amiga:

— A vida sempre superexigiu de mim.

Ela disse:

— Mas lembre-se de que você também superexige da vida.

Sim.”


(Clarice Lispector, in Aprendendo a Viver)



Bom possuirmos amigos ou nossa própria e atormentada consciência. para lembrar-nos de que estamos em eternas reciprocidades com a vida.


E que vida louca e breve, mas vida!!




Feliz aniversário Julie

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"Desde a idade de seis anos eu tinha mania de desenhar a forma dos objetos. Por volta dos cinquenta havia publicado uma infinidade de desenhos, mas tudo o que produzi antes dos sessenta não deve ser levado em conta. Aos setenta e três compreendi mais ou menos a estrutura da verdadeira natureza, as plantas, as árvores, os pássadores, os peixes e os insetos. Em consequência, aos oitenta terei feito ainda mais progresso. Aos noventa penetrararei no mistério das coisas; aos cem, terei decididamente chegado a um grau de maravilhamento - e quando eu tiver cento e dez anos, para mim, seja um ponto ou uma linha, tudo será vivo"

(Katsuhika Hokusai, sécs. 18-19)

 

Assim vejo Julie - a doce menina, mulher, mãe, esposa do "Poeiras ao Vento" - a aniversariante do dia 2 de agosto - sempre descobrindo coisas e vida além da vida de nossas vidas.  Julie, em contante transformação de si mesma, soprando as poeiras de si, comemorando a vida, questionando-a mas vivendo-a intensamente com todas as suas analogias.

 

Para Julie, nesse novo ciclo, a sua autora preferida - Clarice Lispector.

 

"É. Eu me acostumo mas não amanso. Por Deus! eu me
dou melhor com os bichos do que com gente. Quando vejo
o meu cavalo livre e solto no prado - tenho vontade de
encostar meu rosto no seu vigoroso e aveludado pescoço
e contar-lhe a minha vida. E quando acaricio a cabeça
de meu cão - sei que ele não exige que eu faça sentido
ou me explique."

A Hora da Estrela