Mãe. Pai. Filhos



Poema enjoadinho


Filhos . . . Filhos?
Melhor não tê-los!
Mas se não os temos
Como sabê-lo?
Se não os temos
Que de consulta
Quanto silêncio
Como os queremos!

Banho de mar
Diz que é um porrete . . .
Cônjuge voa
Transpõe o espaço
Engole água
Fica salgada
Se iodifica
Depois, que boa
Que morenaço
Que a esposa fica!

Resultado: filho.

E então começa
A aporrinhação:
Cocô está branco
Cocô está preto
Bebe amoníaco
Comeu botão.

Filhos? Filhos
Melhor não tê-los
Noites de insônia
Cãs prematuras
Prantos convulsos
Meu Deus, salvai-o!
Filhos são o demo
Melhor não tê-los . . .
Mas se não os temos
Como sabê-los?

Como saber
Que macieza
Nos seus cabelos
Que cheiro morno
Na sua carne
Que gosto doce
Na sua boca!

Chupam gilete
Bebem xampu
Ateiam fogo
No quarteirão
Porém que coisa
Que coisa louca
Que coisa linda
Que os filhos são!

(Vinícius de Moraes)



E quão dura e doce é a vida de um pai e de uma mãe. Acho engraçado quando vejo um pai preocupado com alguma situação e acaba me dizendo: "Ele? Não está nem ai. Foi jogar bola, nadar no rio, andar de bicicleta. Espere...acabou de meter a porrada no melhor amigo."

Mas para que ele vai se preocupar se tem você para cuidar?

Quando eu estava com um pé aqui e outro acolá, observava apenas restos de meus pais andando de um lado para outro no hospital - pareciam esperar a triste noticia de que eu não havia resistido às bactérias do apêndice. Quando soube da minha alta, liguei para casa e perguntei à mamãe qual o presente que ela gostaria de receber. Ela me respondeu que me queria de volta. Então eu disse: "Venha me buscar".

Quando abri os olhos na CTI, eles estavam ali do meu lado, acho que rezando e pedindo para que eu acordasse. Abrir os olhos e vê-los do meu lado, foi a melhor coisa da minha vida. Seria bom que todos os pais estivessem ao lado dos filhos quando eles abrissem os olhos depois de um cirurgia, mesmo que fosse uma microcirurgia com anestesia local, ou depois de uma decepção - naquele momento que eles abriram os olhos e enxergaram que você estava certo nos seus conselhos de que àquele cara não prestava para sua vida, ou que àquela menina não era a mulher certa.

Muitas vezes, os filhos não percebem que o amor dos pais é tão grande por eles que acabam se tornando chatos em cobranças e zelos. Ah...mas é àquele amor exarcebado que protege meio que desprotegendo da vida. Mas quem não gosta de proteção que desprotege?

As escolhas da filha, a doença incógnita do filho...a preocupação, o zelo, a cobrança, o choro, a briga, a surra; ao final apenas uma mão que se estende e pede para não esquecê-los e que podem contar para sempre com o colo que ainda está disponivel e prestes a te acolher.

Precisa ter um filho para compreender seus pais.
Assim o disse Sofocleto. Quanta imbecilidade de Sofocleto - me desculpe caro filósofo se te chamei de imbecil. Não, é claro que não. É preciso apenas entender de amor. Se Sofocleto estivesse certo - "coitados dos homossexuais, dos inférteis, dos religiosos que vivem sob o manto da castidade, daqueles que passaram por uma quiomioterapia severa e tiveram seus orgãos reprodutivos prejudicados, daqueles que não tiveram tempo de ter uma vida reprodutiva porque morreram cedo, dos que tiveram 'caxumba', dos que não podem pagar um tratamento para fertilidade e esperam pacientemente durante anos numa fila de hospital público. Ah...como poderia ter esquecido? Coitado de Jesus, morreu sem ser pai, portanto, segundo Sofocleto, sem compreender o abandono do pai."

Para compreender seus pais...tem que saber ser filho.
Para compreender seu filho...tem que saber ser pai e ter sido filho, na essência da palavra amor.

Os nossos pais amam-nos porque somos seus filhos, é um fato inalterável. Nos momentos de sucesso, isso pode parecer irrelevante, mas nas ocasiões de fracasso, oferecem um consolo e uma segurança que não se encontram em qualquer out
ro lugar.

Bertrand Russell

5 comentários:

Anônimo disse...

Suspiros e olhos miúdos, cheios de lágrimas!

Menina do Rio disse...

Beth, eu ouço muita gente por ai falando que amor é alegria e não dói, mas sabemos que o amor é a maior loucura, que rasga e fere, transforma, alucina e encanta. É só ver a relação pais e filhos. É uma relação de amor eterno, um passeio entre o céu e o inferno, uma porra de viver entre sorrisos e lágrimas, sobressaltos, agonia e ainda assim queremos estes pimpolhos que nos infernizam os dias.
Acho que isso me deu idéia pra escrever algo sobre o amor pra alguns imbecis que acham que só amam quando estão felizes. Acho que esqueceram que o maior amor do mundo é o de pais e filhos. O maior e mais doloroso! Mas ainda assim, como sabe-los, se não os te-los?

Grande menina!

Um beijo

Tatá disse...

Lindíssimo seu texto, Beth!
Realmente é assim mesmo, nem sempre entendemos o amor que nossos pais nos devotam. Às vezes me culpo por não compreender tudo, mas nada como palavras belas assim para fazer com que aquele bum nos desperte para a vida colorida, repleta de carinho e dedicação. Vou me atentar mais, vou sim. ando relapsa para certas coisas...é a vida...a minha.
Parabéns pela sua sensibilidade, me emocionei pra valer agora.
Só quem é mãe pra saber dessas coisas, né? Ah, tô tão perto disso!

Beijão

Ela disse...

Eu amo ser mãe.
Você expressou a essência desta benção.

Texto emocionante

Adrianne Castro disse...

Adorei

Postar um comentário

Se você não consegue entender o meu silêncio de nada irá adiantar as palavras, pois é no silêncio das minhas palavras que estão todos os meus maiores sentimentos.
(Oscar Wilde)