Ilusão de Ótica



Verdade

A porta da verdade estava aberta,
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.

Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.

Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
diferentes uma da outra.

Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela.
E carecia optar. Cada um optou conforme
seu capricho, sua ilusão, sua miopia.

(Carlos Drummond de Andrade)



Sou ou não sou pura ilusão de ótica? Sou parte de sua verdade caprichosa e soberba em vaidade. Tola vaidade que não enxerga as minhas puras mentiras. Sou metade. Jamais serei inteira. Nem para mim. Muito menos para você.
Quem se doa por inteiro, entrega para outrem, a mais bela metade de sua vaidade.



2 comentários:

Ela disse...

As verdades.. inteiras ou meias... são tão relativas.


Acredito que elas devem trazer o bem viver e ponto.

Vivian disse...

Olá, agradeço pela sua visita em meu blog! Adorei seu cantinho, as mesnagens são fantásticas! Uma ótima sexta-feira pra você!

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Se você não consegue entender o meu silêncio de nada irá adiantar as palavras, pois é no silêncio das minhas palavras que estão todos os meus maiores sentimentos.
(Oscar Wilde)